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Pequena cidade, grandes atividades

Autor original: Marcelo Medeiros

Seção original: Os mais interessantes e ativos projetos do Terceiro Setor








Uma ação nova, que conquistou a confiança da população aos poucos e que já apresenta grandes resultados, apesar das dificuldades. Assim pode ser descrita a história da Fundação Miguel Ferreira, localizada em Rio do Fogo (RN) e criada em junho de 2001. A instituição oferece cursos de qualificação profissional e educação esportiva e artística a crianças da pequena cidade potiguar com base no trabalho voluntário de sete pessoas.


Rio do Fogo é um município do litoral norte do Rio Grande do Norte, distante 60 quilômetros de Natal, com apenas 10 mil habitantes, cuja principal atividade econômica é a pesca. As belas praias - praticamente inexploradas turisticamente - banham uma localidade que abriga problemas econômicos e de saúde da população. Essa situação motivou a psicóloga Vera Lúcia Lemos, 35 anos, a criar uma organização que melhorasse a vida daquelas pessoas - decisão tomada depois de passar um mês em férias na cidade.


Vera já havia trabalhado com organizações sociais anteriormente, mas nunca tinha dirigido uma. Dava palestras de prevenção ao uso de drogas em comunidades de baixa renda no Rio de Janeiro, onde morava antes de se mudar para Natal. “Não havia nada em Rio do Fogo. A população é sofrida, mas muito acolhedora. Eu tinha que fazer algo”, lembra a presidenta da Fundação.


Ela conseguiu reunir mais seis pessoas (a vice-presidenta Soraia Pessoa e cinco professores, todos vindos de Natal) para iniciar os trabalhos na Fundação e, em seguida, aprovou sua criação na Câmara Municipal. Inicialmente a população de Zumbi, distrito onde está a entidade, desconfiou, pois ninguém conhecia ações sociais que não fossem ligadas a políticos interessados em votos. A desconfiança foi embora quando as atividades começaram e todos viram que não havia ninguém em busca de cargos públicos. “Conquistamos as pessoas aos poucos e aproveitamos o melhor possível todas as chances que nos deram”, diz Soraia.


Atividades









Desde então, são oferecidos todos os meses cursos de cestaria, manicure e pedicure, cultura do mato (reaproveitamento de materiais naturais como coco e areia), bordado, entre outros. Por volta de 500 pessoas, inclusive as de outros distritos, já foram beneficiadas com as atividades, que são gratuitas. O trabalho voluntário de professores trazidos de Natal por Vera possibilita as aulas. Em troca, eles ganham apenas estadia em Rio do Fogo. Todos os custos dos cursos são bancados pela presidenta, inclusive com material. “Quando falta dinheiro, não tenho vergonha de bater na porta de conhecidos para pedir ajuda”, diz Vera.


Outra solução encontrada para a falta de recursos é a utilização dos conhecimentos dos próprios moradores e de materiais naturais. Toda terça-feira, cerca de 50 mulheres se reúnem no galpão alugado como sede para ter e dar aula de culturas tradicionais geradoras de renda. É o Clube de Mães, que promove aulas de ponto e cruz, vagonite (bordado típico) e tecelagem de redes. Quando não há pessoas de fora para ministrar os cursos, as próprias moradoras se oferecem para cuidar do conteúdo. A reciclagem e o aproveitamento de recursos como coco e areia são estimulados para economizar em matéria-prima.


Há também o projeto Criança Cidadã, que beneficia 100 crianças de 4 a 14 anos. Elas aprendem futebol, balé e capoeira com os professores voluntários, além de assistirem a palestras de reciclagem de materiais e prevenção de doenças. As aulas acontecem no galpão e num espaço cedido por um clube local. A lista de espera para participar do projeto é grande – há 50 crianças esperando vaga na turma de balé e 35 na de futebol. A procura pela capoeira, onde há 25 crianças na fila, é menor por causa do preconceito que há contra a dança – vista como coisa de marginais pelos moradores, principalmente os mais velhos. Ainda assim, foi feito um trabalho de conscientização entre as crianças que tem dado resultado.


Para melhorar o atendimento que tem sido feito pelo projeto, as professoras da escola local mandam relatórios de desempenho dos alunos para Vera. Com a avaliação, a psicóloga faz dinâmicas de grupo a fim de discutir problemas com as crianças. Isso fez com que o rendimento escolar dos participantes do projeto melhorasse bastante, bem como a biblioteca comunitária feita pela Fundação.


Problemas









Os moradores de Rio do Fogo vivem basicamente da pesca, em muitos casos predatória. A prática já prejudica a economia local, pois começa a faltar peixe para todos. Como solução, alguns pescadores vão trabalhar em outras cidades. A conseqüência é problemas familiares, abuso de álcool e uso de drogas pelos jovens, que têm pouca perspectiva de emprego.


Daí a necessidade dos cursos de geração de renda e das palestras dadas pela Fundação. Além disso, as crianças estão sendo conscientizadas para evitarem bebidas e drogas. “É um trabalho lento. Não queremos interferir diretamente nas famílias e vidas pessoais”, explica Soraia.


A comunidade se envolve e ajuda no que é possível, limpando o galpão e fazendo comida para as eventuais festas. As atividades regulares, porém, têm um custo. O orçamento mínimo da Fundação Miguel Ferreira é de R$ 600 por mês, mas pode dobrar de acordo com as atividades desenvolvidas. As crianças não têm uniforme para praticar esportes e o material necessário é improvisado ou emprestado. Além de equipamentos para os cursos dos adultos e eventuais festividades, Vera também banca remédios para as crianças quando necessário.O galpão que serve como sede e local das atividades custa R$ 150 por mês só de aluguel. “Fizemos o projeto se encher de gás, mas é difícil. Não temos quase ninguém ajudando financeiramente”, diz a presidenta.


Está nos planos da Fundação Miguel Ferreira a realização de palestras educativas, a criação de uma unidade de assistência a crianças, de um coral e de um laboratório digital para qualificação profissional. Para realizar esses projetos, a Fundação precisa de colaboradores. Quem estiver interessado em ajudar, basta entrar em contato com Vera pelo telefone (84) 201-0881, pelo endereço eletrônico fundacaomferreira@yahoo.com.br .


Marcelo Medeiros

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