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Primeira Unidade de Saúde da Família Fluvial do Brasil é lançada em Santarém

A primeira Unidade de Saúde da Família Fluvial do Brasil, lançada em Santarém (PA), representa uma conquista de extrema importância para garantir o acesso aos serviços de saúde para populações ribeirinhas que vivem em comunidades distantes dos centros urbanos. A novidade é resultado do projeto demonstrativo Barco-Hospital Avaré, realizado no Oeste do Pará e desenvolvido pela ONG Sáude e Alegria em parceria com as Prefeituras de Santarém, Belterra e Aveiro. O trabalho, apoiado pela Terre dês Hommes Holanda, se tornou referência em políticas públicas de saúde básica no País e inspirou a publicação da Portaria 2.161, de 3 de agosto de 2010. Através do documento, o Ministério da Saúde autoriza e financia municípios de toda Amazônia e região do Pantanal a implantar Unidades de Saúde da Família Fluviais, permitindo o atendimento regular aos milhares de ribeirinhos com dificuldades de acesso aos serviços do SUS. O Projeto Saúde e Alegria em parceria com as Prefeituras de Santarém, Belterra e Aveiro desenvolveram um modelo demonstrativo de atenção primária adaptado ao contexto das populações ribeirinhas da Amazônia que funciona nos moldes de um PSF (Programa Saúde da Família) itinerante. Com o apoio da Fundação Terre des Hommes Holanda, o atendimento básico de cerca de 70 comunidades do rio Tapajós, desde 2006, vem sendo feito através do Barco Hospital Abaré, beneficiando mais de 15 mil pessoas. Elas têm acesso regular a bordo do posto flutuante, de 40 em 40 dias, aos atendimentos médicos e odontológicos, vacinações, procedimentos laboratoriais, pequenas cirurgias, além exames preventivos como o pré-natal e o PCCU. Ações de educação e prevenção complementam este modelo com a realização de Campanhas Educativas acompanhando as visitas do barco. Arte-educadores apresentam o Circo Mocorongo com teatros e brincadeiras, repassando conhecimentos de como evitar as doenças e promover saúde com alegria. Os resultados podem ser vistos na melhoria dos indicadores de saúde da área atendida, entre os quais, podemos destacar: 96,5% das crianças estão vacinadas, indicador superior à média Estadual que é de apenas 83,3%;  apenas 2% das crianças menores de 2 anos estão desnutridas, enquanto nas comunidades não atendidas a taxa é de 5%;  90% das crianças de até 6 meses são alimentadas exclusivamente com o leite materno;  98% das mulheres grávidas fazem o pré-natal, sendo que apenas 73% o fazem no Estado. Este tipo de atendimento, com regularidade e metodologia diferenciadas, permanecia como um desafio de ser ofertado junto a outros municípios da região, tendo em vista as dificuldades peculiares da Amazônia - grandes distancias e extensões, populações rurais dispersas e de difícil acesso,  carências de transporte e comunicação - somadas ainda à questão da interiorização da medicina e falta de recursos para manutenção desses serviços (tripulação e equipes de saúde embarcadas, combustíveis, insumos diversos, etc). Com base nesta realidade, no direito a saúde dos ribeirinhos e na experiência demonstrada a partir do barco Abaré, o Ministério da Saúde publicou no dia 3 de agosto deste ano, no Diário Oficial da União, uma portaria que instituiu critérios diferenciados para implantação, financiamento e manutenção da Estratégia de Saúde da Família para as populações que residem às margens dos rios em toda Amazônia Legal e Mato Grosso do Sul. Esta regulamentação permite que os municípios implementem Unidades de Saúde da Família Fluviais - algo inédito no Brasil - viabilizando a acesso aos serviços de atenção básica em áreas remotas. Assim, as Secretarias Municipais podem receber recursos para subsidiar os custos operacionais da Saúde Fluvial, especialmente das equipes que necessitam enfrentar jornadas de mais de 15 dias de atendimento em viagens de barco, o que acaba acarretando custos mais elevados do que aqueles que até então a política de saúde considerava como padrão do SUS. "É diferente você manter um atendimento numa região urbana, com uma logística relativamente fácil e onde os profissionais podem ir e voltar no mesmo dia para sua residência. Os custos são diferentes. Além do que precisamos ter uma abordagem diferenciada com as populações rurais em termos das prioridades encontradas no campo da medicina", afirma o Dr. Fábio Tozzi, coordenador de Saúde Comunitária do Saúde & Alegria. A inauguração dessa unidade promove também o marco inaugural da primeira "equipe de Saúde da Família para Populações Ribeirinhas", que funcionará no próprio Barco Abaré, que a partir 2011 terá seu funcionamento sustentado pela política pública de saúde, capitaneado  pela SEMSA de Santarém. O Projeto Saúde e Alegria continuará seu trabalho demonstrativo e responsável pelas ações de educação, prevenção e controle social do modelo. O Secretário Municipal de Saúde de Santarém, José Antônio Rocha, comemora a conquista. "É  um avanço muito grande a implantação do PSF fluvial em Santarém, sendo o primeiro do Brasil. Isso demonstra que a experiência desenvolvida pela SEMSA de Santarém e municípios parceiros com o PSA ao longo desses anos, foi uma parceria forte, que deu resultados e que está tendo o reconhecimento do Ministério. E a partir de agora, está sendo levada para outros municípios da Amazônia". Para Cristianne Haraki, representante no Brasil da Terre des Hommes Holanda, um dos principais parceiros da iniciativa que resultou na portaria, ?desde o início da parceria com o PSA buscamos proporcionar às populações do Rio Tapajós uma assistência de qualidade e alinhada com as políticas preconizadas pelo Ministério da Saúde. No entanto, faltava este reconhecimento. Como organização comprometida em melhorar da qualidade de vida principalmente de crianças e adolescentes, manifestamos nossa satisfação ao PSA, ao Ministério da Saúde, e às Prefeituras de Aveiro, Belterra e Santarém pela iniciativa de inserção da experiência do Barco Abaré a política de saúde do Brasil?, afirmou. "Esta é uma uma vitória importante, pois representa um dos principais objetivos do Projeto Saúde e Alegria e seus parceiros, que é contribuir para o aperfeiçoamento das políticas públicas na Amazônia, sobretudo junto às populações mais isoladas e que mais necessitam do acesso a este tipo de serviço. Além de ser um ótimo exemplo de parceria do terceiro setor com o poder público, o que se semeou a partir da experiência no Tapajós poderá gerar frutos para toda Amazônia, estendendo os benefícios a um numero muito maior de pessoas", afirma o coordenador geral do Projeto Saúde e Alegria, Caetano Scannavino. Informações com Fábio Pena pelo e-mail fabinho@saudeealegria.org.br. Mais sobre a portaria: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2010/prt2191_03_08_2010.html

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