Autor original: Paulo Henrique Lima
Seção original:
Um novo movimento social por um mundo diferente
Manhã de domingo, centenas de pessoas reunidas para buscar compreender como sua ação local pode melhor se relacionar com um movimento global da sociedade civil passado o Fórum Social Mundial. A Conferência moderada por Vittorio Agnoletto, um dos organizadores do Fórum Social de Gênova, teve momentos de grande ovação popular, principalmente durante as palavras da canadense Naomi Klein, autora do instigante Sem Logo.
Naomi ressaltou que a geração formada pela educação convencional dos anos 80 foi criada com a lógica de que não é possível transformar, de que não teria efeito e seria pouco importante se manifestar, participar, que isso não valeria a pena. Os eventos recentes dos encontros, fóruns (Porto Alegre 2001, Seattle, Gênova, etc), criaram uma nova dinâmica, uma espécie de conspiração global onde as pessoas “riem na cara” do poder, numa resistência corajosa em que nossa criatividade é mais forte do que o poder estabelecido nos Estados nacionais submetidos pelo elo internacional das esferas vinculadas as grandes estruturas da globalização econômica. Naomi, querendo desconstruir conceitos afirmou que: “Eu odeio o termo sociedade civil, ele me parece as reuniões e encontros entre as ongs “bem comportadas” e o Banco Mundial. "Temos que acabar com a hipocrisia dessas relações”. Assumidamente defensora da desobediência civil, Klein responde ao questionamento da participação do Banco Mundial e da Comunidade Européia no Fórum Social Mundial: “Assegurem a nossa segurança nas manifestações contra a globalização neoliberal que asseguraremos a segurança de vocês no Fórum Social Mundial”.
A conferência, realizada numa quadra esportiva em que uma rede de proteção separa o público da quadra de esportes, gerou a comparação dos participantes com a imagem de que precisamos derrubar as cercar das propriedades, estimular os movimentos sociais que conquistam suas próprias soluções enfrentando os Estados e as corporações com sua capacidade de articulação em ações diretas e pacíficas.
Joseph Maria Antentas do Movimento de Resistência Global da Espanha comentou que o ponto central que lhe chama atenção nas perspectivas do movimento social é a sua desvinculação com os movimentos políticos e sindicais. Antentas aponta que, principalmente em seu país e, talvez em todo o sul da Europa, um grupo significativo de jovens aderiram ao movimento social e às ações de resistência à globalização neoliberal. Vittorio Agnoletto, com a concordância da mesa questionou esse protagonismo maior da juventude, indicando que o que há de mais novo nestes processos é o encontro de gerações e de ativistas de idades diversas.
Sem conclusões definitivas, a sensação que ficou do fim da Conferência é que estão abalados os alicerces da “corporação da globalização econômica transnacional”, que uma nova força da sociedade civil já se transformou num ator indispensável nas negociações internacionais sobre comércio internacional, meio ambiente e direitos humanos. O Fórum, que continuará com uma atividade mais intensa a partir deste – com vários encontros preparatórios por todo o mundo – terá a responsabilidade de manter acesa esta chama, a da ação direta, da participação, da indignação cidadã.
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