Autor original: Luísa Gockel
Seção original: Novidades do Terceiro Setor
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Depois de alguns anos e sem apoio, a jornalista viu na internet a possibilidade de realizar o que sempre quis: fazer um jornalismo voltado para a defesa da cidadania. “Todo mundo gostava, mas não tinham dinheiro para bancar o projeto. Vi que a história ia se arrastar por muito tempo ainda e, então, decidi ir para internet”, conta, admitindo que a discussão fica um pouco restrita.
E assim foi lançado o site www.emdiacomacidadania.com.br, que, segundo ela, pretende falar em inclusão social do ponto de vista do contribuinte que quer ver seus direitos garantidos, principalmente pessoas com deficiência e homossexuais. “Os cadeirantes pagam impostos e não têm o direito - pela falta de opções - de andar de ônibus nem metrô. As pessoas são iguais na hora de pagar seus impostos e por que têm de ser diferentes na hora de receber o retorno disso?”, questiona.
Márcia lembra de uma decisão do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro que julgou a constitucionalidade para o município do direito à pensão do companheiro ou companheira homossexual. Na mesma tarde, o mesmo TJ julgou o fato inconstitucional para o restante do estado. Esses e outro absurdos “imorais”, segundo ela, devem ser objeto de denúncia e análise no site.
“Temos um grupo bem diverso de colaboradores. Desde o jornalista veterano até o estudante de comunicação. Não é um site da causa GLS ou sobre pessoas com deficiência. É um site sobre cidadania com atenção especial a esses dois segmentos”, explica. Para o projeto funcionar bem, Márcia destaca a necessidade da interação com os leitores e leitoras do site. “Precisamos que o leitor seja parceiro e nos ajude a contar essas histórias. Só vamos alcançar o que queremos fazer se recebermos denúncias. Pode ser em arquivo de áudio, e-mail, texto ou foto. Precisamos saber o que acontece em Alagoas, por exemplo”, afirma.
A necessidade de participação com quem lê é a alma do projeto, segundo ela. Se funcionar bem, a idéia é, dentro de alguns meses, passar a enviar uma sugestão de pauta semanal para a imprensa, a fim de colocar a questão da cidadania nas discussões cotidianas. “Além disso, precisamos estar ligados a uma rede de organizações da sociedade civil para que essa idéia dê certo”, avalia Márcia. Para manter o site, a equipe também está em busca de anunciantes. A manutenção do projeto depende, além da interação com ONGs e com a sociedade civil em geral, dos anúncios. Só no primeiro mês e sem nenhuma grande divulgação, o site teve mais de 3 mil acessos.
A equipe que cuida do site e vestiu a camisa do projeto - formada por Liana Brazil, Rodrigo Machado e Marcelo Viglio - é quem dá cara às idéias cidadãs de Márcia. Mas ela ressalta que todo mundo pode e deve fazer parte da iniciativa para que as discussões que estão hoje soltas na sociedade civil possam ser costuradas e recebam a visibilidade que merecem. Nesse sentido, a jornalista está organizando um seminário em novembro para colocar o tema na rua. E para isso busca parcerias do Rio de Janeiro - onde será realizado o evento - e de outras cidades também. A Associação Brasileira de Imprensa (ABI), o Sindicato de Jornalistas e a Rits já são parceiras do evento.
“No ano que vem, a nossa Constituição faz 20 anos e faz 200 anos que a corte portuguesa chegou ao Brasil e começou muitas das coisas que estão por aí hoje. É um bom momento para repensarmos a questão da cidadania”, avalia. Segundo ela, a partir da chegada da família real e da instalação do Estado brasileiro, passamos a fazer parte dele. “Cobramos do Estado, que não cumpre suas próprias leis, mas a sociedade também não deixa por menos. O Estado somos nós. Se ele é omisso e escandalosamente injusto como é o nosso, é porque deixamos, seja pelo silêncio, seja pelo olhar para o lado, seja por esperar que o outro faça por nós”, critica.
Para Márcia, atentados contra a cidadania estão por toda parte e ocorrem a todo momento. “Quando o motorista ocupa as calçadas com seu carro, ele não está contestando o Estado ou a falta de vagas. Ele está atingindo o mais fraco, o pedestre, que não pode passar. O Estado, mesmo, ele não encara e está contribuindo para que seus próprios direitos sejam aviltados, naquela e em qualquer outra esfera”, afirma a jornalista.
Por isso, o site também está aberto a denúncias de anti-cidadania cometidas pelo próprio cidadão. “Mudar tudo isso vai dar trabalho? Claro que vai! Mas não tem como mudar se as mudanças não vierem de dentro pra fora e se derem em todos os lugares”, diz. E complementa: “O espaço público não é de um, particularmente; é de todos. Por isso mesmo, cada um não pode fazer nele o que bem entender”.
Para ela, é importante seguirmos valorizando cada ação e cada pessoa que luta pela cidadania no seu dia-a-dia. “Todo coração é um aparelho revolucionário”, diz, repetindo a frase que leu há pouco tempo num painel da União Nacional dos Estudantes.
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