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De volta à família

Autor original: Joana Moscatelli

Seção original: Os mais interessantes e ativos projetos do Terceiro Setor






De volta à família
Divulgação: FXB Brasil

Acolher crianças com Aids/HIV era o principal objetivo da Associação Criança Querida, criada em 1994 e financiada pela Children’s Resource International, do Japão, e a Fundação François Xavier Bagnoud, da Suíça. Mas a partir de 2001 a ONG muda sua forma de atuação e passa a ter como meta primordial a reinserção familiar dessas crianças. Nessa época, o próprio nome da instituição, que atua na região de Campo Limpo, zona sul de São Paulo, também já tinha mudado. Com a saída da Children’s Resource International, a ONG passa a se chamar Associação François Xavier Bagnoud do Brasil.

Inicialmente, a ONG funcionava apenas como uma casa de apoio que abrigava crianças e jovens de 0 a 17 anos com HIV/aids, encaminhadas por Juizados de Menores da cidade de São Paulo. Mas a percepção de que somente a institucionalização, temporária ou permanente, dessas crianças não era a melhor forma de garantir seus direitos contribuiu para que a ONG mudasse o foco de atuação. Segundo a diretora da Associação, a psicóloga Elisabeth Bahia, essa necessidade de transformação surgiu a partir da observação e de conversas com as próprias crianças. “Durante oficinas, desenhos, conversas, refeições foram observadas e verbalizadas a vontade de ter um pai, uma mãe, um tio, tia, avó, enfim a necessidade de ter uma família”, contou.

Essa reaproximação só foi possível também graças ao surgimento do coquetel de medicamentos da aids que passou a proporcionar vida normal às pessoas infectadas pelo vírus. Diante dessa nova realidade, a Associação buscou restabelecer as relações entre as mães que tinham sobrevivido e as crianças deixadas por elas na instituição.

Para a psicóloga, casas de apoio exclusivas para crianças com aids podem torná-las ainda mais segregadas: “Quando dizemos ser necessário rever se é saudável um espaço exclusivo para crianças com HIV e aids, não é no sentido de que as casas de apoio não devam existir, mas que não sejam exclusivas às crianças com aidse HIV, e sim para todas as crianças órfãs”.

Identificar e sensibilizar as famílias dessas crianças foi o primeiro passo da Associação que já reintegrou seis crianças às suas famílias originais e encaminhou oito para famílias adotivas. “As dificuldades existiram, mas nada que pudesse barrar o propósito. Tudo isso provocou muita alegria, mas também muita ansiedade e insegurança junto às crianças. Com o tempo e ao conhecer as avós, tias e mesmo o resgate com as mães, isso foi se transformando em felicidade juntamente com a dificuldade e a angústia de sair da instituição, lugar onde viveram durante anos. Hoje, o que vemos são essas crianças totalmente inseridas nas famílias, tranqüilas e felizes. Tudo isso nos tranqüiliza também e vem reforçar nossa visão de que a instituição, por melhor que seja, não é uma família”, afirma a psicóloga.

Atualmente, a ONG acompanha de perto as cinco últimas crianças reintegradas, oferecendo apoio médico, psicológico e educacional. Além disso, atende 38 famílias que convivem com o vírus da Aids através de visitas domiciliares e de seu Programa de Qualificação Profissional.

A condição básica para que as crianças passem a viver com as famílias, originais ou adotivas, é que estejam assegurados os seus direitos à saúde, educação e bem estar. A Associação busca garantir um ambiente familiar e afetivo adequados, conforme prevê o Estatudo da Criança e do Adolescente (ECA).

Segundo a Associação, o que leva crianças e adolescentes para abrigos e instituições é a desestruturação familiar que pode ser gerada pela aids. Assim sendo, ao lado da reintegração familiar, a ONG realiza programas de qualificação profissional, acompanhamento psicosocial junto às famílias, atividades de prevenção ao vírus e de diminuição da mortalidade dos já infectados, assim como participa ativamente dos eventos relacionados ao tema.

Para realizar suas atividades, a ONG conta com a parceria do Programa Nacional de Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST) e Aids do Ministério da Saúde e dos Programas Estaduais e Municipais de DST e Aids de São Paulo.

Joana Moscatelli

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