Autor original: Luísa Gockel
Seção original: Os mais interessantes e ativos projetos do Terceiro Setor
![]() Foto: www.artesol.org.br | ![]() |
Incentivar o artesanato de tradição em comunidades de baixa renda. Esse é o objetivo do Artesanato Solidário, um projeto criado em 1998 no âmbito do Comunidade Solidária, do governo federal. No início, seis programas emergenciais de desenvolvimento local foram criados para combater a pobreza em regiões afetadas pela seca. De acordo com a responsável pela área de comunicação da entidade, Cláudia Cavalcanti, o projeto ganhou corpo e depois de 42 ações em diferentes comunidades da região Nordeste e do norte de Minas Gerais passou a ser uma organização da sociedade civil em 2002.
“No final do governo de Fernando Henrique Cardoso, a ex-primeira dama Ruth Cardoso resolveu transformar esses programas do governo num projeto mais permanente. Assim nasceu o Artesanato Solidário, em 2002”, diz Cláudia. O programa do governo se transformou numa Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP) – o Artesanato Solidário ou simplesmente ArteSol. Segundo a coordenadora, a entidade ganhou mais fôlego para estabelecer parcerias públicas e privadas e atuar também na comercialização dos produtos.
O foco principal do projeto é fazer com que os artesãos sejam protagonistas do desenvolvimento local. Nenhuma técnica de artesanato é ensinada aos grupos, pois a idéia é respeitar as características do trabalho feito por eles. A capacitação tem o objetivo de revitalizar o artesanato tradicional já existente, ensinando técnicas de comercialização, padrões de tamanho, como fixar preços justos, elaborar etiquetas e se organizar em grupos.
“Dois fatores são observados antes de escolhermos o lugar: baixo índice de desenvolvimento humano e a presença de um artesanato de tradição. Às vezes, o artesanato pode estar esquecido, só um mestre tem o conhecimento. Tentamos convencê-lo a ensinar os mais jovens”, explica Cláudia. Segundo ela, é realizado um diagnóstico de cada localidade e um plano de trabalho de 18 a 24 meses é realizado. “Cada projeto é um projeto. Temos um esqueleto, no qual nos baseamos, mas a forma como vamos estruturá-lo depende muito da comunidade”, explica.
As oficinas realizadas pelo Artesanato Solidário se dividem em quatro grandes eixos temáticos: identidade, cultura e cidadania; gestão da produção; produto e relacionamento com o mercado. Hoje, os mais de 80 projetos desenvolvidos pela entidade têm o objetivo de formar grupos autônomos para gerir seus próprios negócios. “Temos um showroom em São Paulo onde são expostos trabalhos de cerca de 60 grupos. A ida para a cidade nos ajudou a abrir mais os mercados”, diz. Cláudia explica que antes o escoamento da produção se dava na própria localidade em que era produzido o artesanato.
O showroom pode ser visitado por comerciantes, empresas ou arquitetos. “Não tratamos direto com o consumidor. Geralmente recebemos encomendas dos lojistas ou de empresas, que querem fazer brindes, e repassamos para os artesãos”, explica. Todo esse processo, segundo ela, tem de ser feito respeitando as especificidades do trabalho dos artesãos. “O artesanato não é como uma produção industrial. Temos de respeitar o limite de quantidade e o tempo necessário para a confecção das peças. Em alguns lugares onde chove mais, por exemplo, temos de saber que a palha vai demorar mais a secar”.
Como os artesãos não têm contrato de exclusividade, muitas vezes não podem aceitar as encomendas feitas pela organização em São Paulo. “Adoramos quando isso acontece porque significa que eles estão caminhando sozinhos. É muito comum recebermos visitas de pessoas que antes nunca tinham saído da sua comunidade e que estão vindo pela primeira vez a São Paulo, para uma feira de artesanato”, conta Cláudia.
A organização comemora a certificação da Associação Internacional de Comércio Justo (Ifat, da sigla em inglês). “É uma notícia muito boa, porque o processo é longo e difícil. Apenas organizações que praticam um comércio ético e solidário conseguem”, comemora. Entre os requisitos do Ifat, estão a prática do preço justo e a produção sem trabalho escravo ou infantil.
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