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As armas, cidadãos

Autor original: Fausto Rêgo

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As armas, cidadãos
Foto: Marcos DPaula

O capítulo final da recente ocupação militar em favelas cariocas se deu no dia 14 de março. Segundo o Exército, os dez fuzis 7.62 e a pistola 9mm roubados no último dia 3 do Estabelecimento Central de Transportes (ECT), no bairro de São Cristóvão, na zona norte do Rio, foram localizados perto de um prédio abandonado, em São Conrado, na zona sul. As armas estavam enferrujadas e com a numeração raspada. O roubo foi executado por sete homens encapuzados e vestindo roupas camufladas que renderam e agrediram os soldados responsáveis pela guarda.

Com a concessão de um mandado de busca e apreensão para procurar o armamento roubado, tropas militares saíram às ruas e fizeram bloqueios em rodovias. Tanques apontaram canhões para morros, homens camuflados percorreram becos e vias de um total de 13 favelas. Toda essa operação, que envolveu em torno de 1.600 homens e contou com o apoio da Secretaria Estadual de Segurança Pública, tinha como objetivo recuperar os fuzis roubados. Houve apreensão de drogas, prisões e confronto com traficantes – que o coronel Fernando Lemos, da área de Comunicação Social do Comando Militar do Leste, preferiu chamar de “tiros de inquietação”. Balas perdidas feriram moradores, entre eles um bebê com 26 dias de vida e uma criança de 11 anos.

“Não houve qualquer incidente maior”, disse à Rets o Coronel Lemos. “Dois rapazes morreram atingidos pelo tráfico. Infelizmente isso acontece todos os dias. O Comando Militar do Leste tem como princípios a observância dos direitos humanos e a segurança da população”. Segundo ele, uma resposta do Exército à ousadia dos criminosos era imperativa. Não reagir, garantiu, teria sido pior. “Demonstraria nossa fraqueza”, afirmou.

No dia 13, segunda-feira, o Exército decidiu encerrar a ocupação em algumas comunidades para adotar uma nova estratégia, mais “seletiva e direcionada”. Na terça (14) de manhã, tropas ocuparam a Rocinha, em São Conrado. No início da noite, era divulgada a notícia de que as armas haviam sido localizadas. As investigações prosseguiram e dois ex-soldados do ECT, de onde foi roubado o armamento, foram presos. Um deles confessou a participação no crime e apontou os cúmplices.

O “final feliz” encerrou a história da ocupação, mas gerou especulações de que o Exército teria feito um acordo com traficantes, o que o chefe do Comando Militar do Leste, general Domingos Curado, nega com veemência: “O Exército não faz acordo com criminoso. Age dentro da lei”.

Muitos cariocas reagiram de forma positiva diante da sensação de segurança gerada pela presença dos militares nas ruas. Nas seções de cartas de jornais e em pesquisas informais realizadas pela internet revelou-se o apoio de parte da população à iniciativa das forças armadas. As comunidades ocupadas, no entanto, reclamaram de abusos e de violação ao direito de ir e vir dos moradores.

Para fazer uma análise do que representou essa ocupação à luz dos graves problemas de segurança pública do Rio de Janeiro, a Rets conversou com o sociólogo Ignacio Cano, do Laboratório de Análise da Violência da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, e o professor Jailson de Souza, coordenador do Observatório de Favelas e um dos fundadores do Centro de Estudos e Ações Solidárias da Maré (Ceasm).

Aqui você acompanha essa dupla entrevista.


Fausto Rêgo e Mariana Loiola

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