Autor original: Joana Moscatelli
Seção original: Os mais interessantes e ativos projetos do Terceiro Setor
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Dos cerca de 13 milhões de crianças entre 0 e 3 anos, só 11,7% têm acesso às creches, de acordo com o Censo 2003 do IBGE. Como se não bastasse essa situação alarmante, recentemente, foi colocada em pauta no Congresso Nacional, uma Proposta de Emenda Constitucional (PEC 415/05) que propõe a exclusão do financiamento das creches pelo Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb). Revelando assim a total negligência do poder público brasileiro quanto à questão da educação infantil no país.
Apesar de todo esse descaso, algumas ações vêm tentando conscientizar a sociedade da importância de se investir na base educacional e propor políticas públicas que beneficiem crianças e seus familiares. É o caso da Cruzada Pró-Infância, que busca, desde 1930, atentar para a necessidade de se investir na educação da criança no Brasil. Para isso, além de campanhas, palestras e reivindicações de recursos e leis específicas para a área, desenvolve atividades pedagógicas em dez creches e um abrigo na cidade de São Paulo (SP).
Para a superintendente geral da Cruzada Pró-Infância, Rosa Maria Marinho Acerba, a principal dificuldade no que se refere ao trabalho da instituição é equilibrar a grande demanda e os poucos recursos públicos que são destinados à área da educação infantil. “Nossa grande dificuldade é não poder ampliar o nosso trabalho, pois não há verba suficiente. Atualmente, só em uma das nossas creches, em Heliópolis, existem mais de 700 crianças na fila de espera para serem atendidas. E o pior é que a gente sabe que não vai poder atendê-las. Elas vão crescer sem a oportunidade de desenvolverem atividades importantes para a sua formação educacional e psicológica.”
De acordo com a Constituição Brasileira e a Lei de Diretrizes e Bases da Educação, a creche e a pré-escola são direitos da criança, das mães e pais trabalhadores e um dever do Estado. A educação em creches é constituinte da primeira etapa da Educação Básica e direito de toda a criança. Entretanto, não há investimento suficiente do poder público para que esses direitos, garantidos por lei, sejam colocados em prática.
Há 75 anos, a Cruzada começou como uma ação comunitária visando à promoção da assistência materno-infantil, mas, por questões financeiras, passaram a atuar mais especificamente na área da educação. Rosa Maria explica que era muito caro manter um Hospital como o Pérola Byington, que atendia diversas áreas de assistência médico-cirúrgica dedicadas à mãe e à criança, e depender dos recursos do Sistema Público de Saúde (SUS), que sempre atrasavam. Assim, resolveram alugar a sede do Hospital para o Governo do Estado de São Paulo, com a promessa de que o trabalho realizado seguiria os mesmos princípios.
Com o dinheiro do aluguel, somado a outros recursos do estado e do município a Cruzada Pró-Infância atende a cerca de 1.800 crianças e adolescentes carentes, atuando em áreas como assistência, educação e proteção. “Nas creches são atendidas crianças de 0 a 7 anos e nós desenvolvemos um trabalho baseado na pedagogia do construtivismo.” O construtivismo é uma teoria que busca descrever os diferentes estágios por que passam os indivíduos no processo de aprendizagem, de como se desenvolve a inteligência humana e de como o indivíduo se torna autônomo. A idéia da pedagogia construtivista é que cada criança construa o seu saber a partir da sua própria realidade e de seu repertório cultural.
Assim, além das refeições diárias e de cuidados com a higiene e saúde, são desenvolvidas nas creches atividades que buscam o desenvolvimento intelectual, bem como a socialização das crianças, sob a supervisão e orientação de profissionais.
No Abrigo Butantã, são acolhidas 20 crianças e adolescentes (até os 18 anos) em situação de risco pessoal e social. O atendimento é feito em tempo integral e muitas crianças acabam permanecendo anos no abrigo devido à dificuldade e complexidade dos processos de adoção ou de reintegração às famílias.
Além dos 300 funcionários, a Cruzada conta com o trabalho voluntários de 150 pessoas que atuam, geralmente, na organização de eventos como a Feira do Aconchego. Realizada sempre na semana anterior ao Dia das Mães, a Feira do Aconchego é um evento que promove a comercialização de produtos de cama, mesa, banho e utilidades para o lar. Esses produtos são confeccionados pelos próprios voluntários, na maioria mulheres, através do projeto “Oficina”.
Além da preocupação com as crianças, a Cruzada trabalha em conjunto com as famílias, realizando atividades de apoio. Através de visitas domiciliares, debates e reuniões, as famílias entram em contato com o desenvolvimento social e pessoal da criança. “Nós acreditamos ser necessário trabalhar em parceria com as famílias. É importante que ela participe e esteja presente nas atividades que a creche desenvolve".
Entre outras atividades, a Cruzada também promove cursos de iniciação profissional para complementação da renda familiar e auxílio em situações emergenciais, como doação de alimentos e roupas. Através desse trabalho, a Cruzada atua na base educacional, desenvolvendo aspectos sociais e pessoais das crianças para que possam se tornar adultos melhores e cidadãos mais conscientes de sua importância na sociedade.
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