Autor original: Mariana Hansen
Seção original: Os mais interessantes e ativos projetos do Terceiro Setor
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"Não sabendo quer era impossível, ele foi lá e fez". A frase do sábio chinês Lao Tsé, presente no site da Associação Desportiva para Deficientes (ADD), define bem a trajetória da entidade. Fundada em 1996, em São Paulo (SP), pelo professor de educação física Steven Dubner e pela administradora Eliane Miada, a ADD trabalha pela inclusão de pessoas com deficiência na sociedade através do esporte. Programas de estímulo a esportes paraolímpicos, apoio psicológico, palestras motivacionais e cursos voltados para a geração de renda são algumas das atividades desempenhadas pela ONG para realizar uma atuação completa em prol das pessoas com deficiência.
A história da associação, começa, na verdade, em 1980, quando o ainda estudante Steven foi abordado por um rapaz em uma cadeira de rodas e questionado sobre a possibilidade de jogar basquete usando a cadeira. Steven se sentou na cadeira para "sentir" os movimentos e ver como poderia adaptá-los ao basquete convencional. De fato, viu que era possível. A semente da ADD já estava plantada. Dubner passou sete anos nos Estados Unidos trabalhando com esporte adaptado e, quando voltou ao Brasil, percebeu a necessidade de repassar sua experiência e a importância de uma entidade que pudesse potencializar e profissionalizar esportistas com alguma deficiência.
Assim foi criada, em 1996, a ADD, e desde então seu trabalho só tem crescido. Hoje sua sede conta com um centro de capacitação em informática, salas para atendimento psicológico, orientação nutricional e física, espaços para cursos voltados para a geração de renda para pessoas com deficiência, além de área para prática de esportes adaptados. Em 2004, atendeu 1.900 pessoas diretamente nas modalidades de basquete em cadeira de rodas adulto e infantil e atletismo – e também em cursos educacionais e atendimentos gerais. A ADD trabalha com pessoas de diversas camadas sociais. Segundo Dubner, a maioria das crianças vem de comunidades pobres.
Outra grande parte das pessoas que procuram a instituição sofreu alguma lesão medular, vítimas de tiro ou acidente de carro. Dessa forma, além do trabalho de integração, também é prestado apoio psicológico, pois o desânimo é uma das grandes dificuldades para a reabilitação dessas pessoas, que se sentem incapazes de praticar qualquer atividade. "Um problema como esse desestrutura qualquer família. Neste caso, damos todo o apoio também para a família do indivíduo", diz ele. É mais um instrumento para cumprir a missão da associação – o desenvolvimento de pessoas com necessidades especiais, por meio do esporte e da educação, ajudando no processo de resgate da auto-estima, integração e inclusão social.
Além do trabalho com os esportistas, a ADD realiza oferece também o serviço de palestras motivacionais pelo Brasil, a fim de conscientizar a população e as empresas sobre a importância e a qualidade do esporte adaptado, assim como a necessidade de integrar essas pessoas à comunidade. "Um dia estava falando sobre o meu trabalho para crianças e um pai me ligou perguntando: ‘O que você fez com meu filho?’. Eu disse: ‘Não fiz nada, só falei sobre o meu trabalho’. E aí ele falou: ‘Não, o que você fez com o meu filho você vai fazer com a minha empresa’", relata Dubner, principal responsável por ministrar as palestras. Desde então, ele discursa não só em escolas – uma das atividades do Projeto ADD Escola, que conscientiza pais, alunos e educadores sobre a importância do trabalho feito –, mas também em empresas. Os eventos acabam por transformar, algumas vezes, essas firmas em parceiras da associação. O “preço” das palestras são cadeiras de rodas para a ADD.
O que lembra, aliás, a principal dificuldade encontrada pela entidade: o financiamento dos projetos. Dubner diz que os empresários possuem poucas informações sobre os “cadeirantes”, expressão usada por ele para se referir a pessoas em cadeiras de rodas. “São 25 milhões de deficientes no Brasil de todas as camadas sociais. Além das pessoas que eles conhecem, os empresários poderiam chegar a muita gente apoiando projetos para esse público. Só que há muita falta de informação. A ignorância é tão grande que impressiona", revolta-se.
No esforço de diminuir essa ignorância, a ADD faz consultorias nas empresas para que elas contratem gente com necessidades especiais, além de palestras sobre como essas pessoas podem facilmente desempenhar diversas funções. A ONG possui hoje quatro programas, além das palestras e dos jogos de exibição. O Programa Criança atende crianças com deficiência, dando suporte para que possam praticar esportes, basquete em cadeira de rodas e natação, descobrindo, assim, potencial para ultrapassarem as barreiras da deficiência, que vão além do aspecto físico. O programa está associado ao ambiente escolar, promovendo a integração entre crianças com e sem necessidades especiais. No caso de crianças mais pobres, elas são encaminhadas para uma escola particular que seja capacitada a integrá-las, recebendo uma bolsa de estudos.
O programa ADD Training enfoca a capacitação profissional, oferecendo cursos de gratuitos de informática, línguas e outros treinamentos que sejam de interesse das pessoas atendidas pelo projeto. E o Programa Atletas Individuais apóia paraesportistas nas modalidades de atletismo, surfe, triatlon, ciclismo tandem e escalada. Os atletas da ADD têm se destacado em competições nacionais e internacionais, como o maratonista e triatleta Paulo Almeida, que é tricampeão da Maratona de Nova York e se mantém recordista da prova em sua categoria. Finalmente, o Programa Basquete apóia o time de basquete em cadeira de rodas ADD/Magic Hands, criado em abril de 1997.
A associação está presente também na luta das pessoas com necessidades especiais, especialmente pela melhoria da acessibilidade para as que usam cadeiras de rodas. A entidade fez, por exemplo, o 1º Guia de Hotéis para pessoas com deficiência, necessário principalmente para os atletas que viajam para diversas cidades e precisam procurar locais acessíveis ou adaptados às suas necessidades. Possui ainda projetos como apartamentos e banheiros para indivíduos com deficiência, entre outros. Outro trabalho inovador da ONG foi a criação do método para prática de basquete por cegos.
Além disso, o trabalho da entidade já não se encontra mais restrito somente à cidade de São Paulo (SP), onde surgiu. Desde 2003 possui uma filial em Uberlândia (MG) que já tem duas equipes infantis de basquete: Crianças em Rodas e Cesta de Letras. Hoje 50 crianças praticam esportes na ADD mineira, que em 2003 atendeu diretamente 1.640 pessoas com deficiência nas modalidades cadeira de rodas adulto e infantil e atletismo, além de cursos educacionais e atendimento gerais.
Ao olhar pra trás e fazer um balanço dos nove anos de existência da instituição, Dubner acredita que a ADD conseguiu diversas vitórias, mas ainda há muito a fazer. "Melhorou muito, porém falta mais ainda para a necessidade que o Brasil tem", acredita. Cerca de 14,5% da população brasileira possui algum tipo de deficiência. Ao pensar no futuro e planejar formas de justamente contribuir para suprir essa necessidade, Dubner pretende que, em cinco anos, a entidade esteja presente em todos os estados brasileiros. Ele conta que a procura pela entidade é cada vez maior, mas não quer entregar o projeto na mão de qualquer pessoa. A ADD de São Paulo faria a capacitação para que a metodologia seja mantida. Existe ainda a intenção de implementar nas cidades o Centro Esportivo para o Deficiente, que seria um espaço de convívio entre pessoas com e sem deficiência. "É muito mais fácil o andante se adaptar ao deficiente do que o contrário", arremata.
Mariana Hansen. Colaborou Italo Nogueira.
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