Autor original: Fausto Rêgo
Seção original: Os mais interessantes e ativos projetos do Terceiro Setor
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A recente Expo Brasil de Desenvolvimento Local, realizada em Olinda (PE), no mês passado, amadureceu a idéia de realizar, na próxima edição do evento, um fórum de desenvolvimento local para países de língua portuguesa. A proposta, acolhida com entusiasmo pelos organizadores, partiu de Francisco Botelho, consultor do Programa Leader+, iniciativa comunitária portuguesa de intervenção em regiões rurais. E pode ser um passo importante para a consolidação do projeto Cooperar em Português.
Iniciado há cerca de dois anos, o projeto envolve uma cooperação entre os países de língua portuguesa em torno de experiências de desenvolvimento local integrado e sustentável (DLIS), como microcrédito, orçamento participativo e alternativas de geração de renda. Organizações de Portugal e Brasil têm, desde então, estreitado seu relacionamento, e nota-se que essa aproximação ganha um impulso cada vez maior durante as Expo Brasil. "Muito caminho já foi percorrido no sentido da aproximação, muitos contatos surgiram entre brasileiros e portugueses", conta Botelho. "A Expo Brasil em Belo Horizonte [no ano passado] e a deste ano, em Olinda, foram momentos especiais de encontro e divulgação. Portugal vai aprendendo com o Brasil a prática do DLIS, o Brasil vai conhecendo a intervenção do desenvolvimento local português".
Onze associações portuguesas participantes do programa Leader+ já assinaram um protocolo de cooperação com a Rede DLIS – articulação responsável pela coordenação da Expo Brasil – e a Rede de Informações para o Terceiro Setor (Rits), com o objetivo de criar um espaço virtual que permita o compartilhamento de informações, reflexões e conhecimentos. Esse intercâmbio, que num primeiro momento envolve Portugal e Brasil, será estendido aos demais países onde se fala português. Em Olinda, ao comentar o potencial dessa iniciativa, Ana Souto, representando as Associações de Desenvolvimento Local (ADLs) portuguesas, afirmou que a intenção é encontrar pontos de união e aprendizagem mútua. "Vamos tentar redescobrir o Brasil de outra forma”, declarou.
O encontro de Olinda – que contou com a participação de 14 associações portuguesas – deixou na agenda uma série de projetos de cooperação, o que gera uma expectativa bastante positiva para o próximo ano. O principal item dessa agenda é a idéia do 1º Fórum de Desenvolvimento Local em Língua Portuguesa, que poderá representar um papel fundamental na integração de uma variedade de experiências regionais realizadas em todo o mundo. "A Rede DLIS e os integrantes do projeto Cooperar em Português irão agora estabelecer os contatos indispensáveis à procura de financiamentos para a sua concretização. Deslocar atores do desenvolvimento local de países tão distantes como Timor, Angola, Moçambique, Guiné, São Tomé e Príncipe, Cabo Verde, gente que luta em condições tão precárias e sem qualquer possibilidade de despender os elevados custos da deslocação, implica criar um Fundo de Apoio que lhes proporcione a oportunidade de estarem presentes no Brasil. Esse esforço e o planejamento do programa serão trabalhos a elaborar no seio do Cooperar em Português", explica Botelho.
Viabilizar a realização desse fórum é o principal desafio neste momento. O Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) e o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), já manifestaram interesse em apoiar o evento. Inicia-se agora uma etapa de contatos com agências de cooperação internacionais e Botelho está otimista: "Não tenho dúvidas de que, se conseguirmos pôr de pé esta iniciativa, ela representará um passo significativo para o conhecimento mútuo, para o desenvolvimento de iniciativas de cooperação multilaterais e para a afirmação da força do desenvolvimento local como uma forma eficaz de construir a nova globalização - a das solidariedades".
Solidariedade, aliás, é o que se impõe no espírito dessa cooperação, que envolve realidades e contextos diversos, ainda que com uma série de aspectos comuns. Longe de ser um problema, essa diferença torna-se a própria razão de ser do projeto. "Aprendemos sempre mais com aquilo que é diferente", afirma Botelho, "pois só através da diferença conseguimos construir novos caminhos. E, nesse sentido, a criatividade brasileira pode ser muito inspiradora para Portugal. E a organização, a experiência e a integração num espaço alargado como a Europa, por parte de Portugal, podem ser úteis aos atores do DLIS no Brasil". E se a comunicação entre cada lado é simples – afinal, unem-se todos pelo mesmo idioma –, mais fácil tornam-se o entendimento e a própria solidariedade.
Segundo o consultor do programa Leader+, o Cooperar em Português deverá ser, acima de tudo, uma plataforma de conhecimento e de encontro. "Daí que esteja a apostar no lançamento de uma plataforma digital de informação, reflexão e contatos. Com isso, poderá transformar-se num projeto 'chapéu' que origine muitas cooperações bilaterais".
Estão previstas atividades como troca de informações, referências conceituais e experiências; ações de sensibilização e demonstração; realização de estágios e encontros e concepção e execução de novos produtos em cooperação, de modo a aproximar e integrar as diferentes bases culturais.
Qualquer entidade poderá se beneficiar das informações pesquisadas e compartilhadas pelas organizações participantes, uma vez que o material estará disponível nesse espaço virtual que se pretende criar em breve. As iniciativas de cooperação efetiva, no entanto, se darão no âmbito do próprio projeto e serão desenvolvidas autonomamente entre as associações de cada país. À Rede DLIS cabe a responsabilidade pela condução do Cooperar em Português no Brasil, pela articulação de entidades e atores brasileiros e pela criação de condições para que ocorra de fato uma interação entre as diferentes metodologias de desenvolvimento local.
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