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Discriminação não faz escola

Autor original: Mariana Loiola

Seção original: Novidades do Terceiro Setor





Discriminação não faz escola

Pesquisa sobre juventude e sexualidade divulgada em março pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) revelou que 25% dos alunos não gostariam de ter um colega de classe homossexual. O preconceito dentro da escola, segundo Lula Ramires, presidente do Grupo Corsa, é reflexo do preconceito presente na sociedade. "Vivemos numa sociedade preconceituosa, sexista e racista, e a escola reproduz todos esses preconceitos, enquanto deveria ter um papel crítico em relação a essa questão", diz Ramires.

Com o propósito de combater o preconceito no ambiente escolar, o Grupo Corsa, em parceria com a Ecos - Comunicação em Sexualidade, iniciou em setembro o projeto Diversidade Sexual na Escola: Novas Práticas Educativas sobre Sexualidade e Cidadania. A iniciativa se propõe a fornecer aos profissionais da educação informações sobre diversidade sexual. A idéia é que, com essas informações, eles possam rever sua visão e opinião com relação à homossexualidade e à própria sexualidade dos jovens e, conseqüentemente, colaborar com suas atividades pedagógicas ou extracurriculares para combater o preconceito no ambiente escolar.

O preconceito não acontece apenas nas relações entre os alunos, segundo as entidades responsáveis pelo projeto. A aversão à homossexualidade dentro das escolas também tem a participação de professores. Estes são coniventes com a discriminação, aceitam-na e até utilizam os apelidos e piadas homofóbicas criados pelos adolescentes.

"A escola não sabe lidar com essa questão e muitas vezes corrobora com o preconceito. É comum, quando surge algum caso de homossexualismo na escola, o mesmo ser tratado a portas fechadas, encarado como doença ou imoralidade. O adolescente é mandado logo para um psicólogo", conta Ramires.

A conseqüência do preconceito é a redução da auto-estima e a exclusão dos adolescentes que são alvo de discriminação e muitas vezes abandonam a escola, comenta Sylvia Cavasin, diretora da Ecos, organização que há quase dez anos trabalha com o tema da diversidade. "Nossa intenção não é atingir apenas os professores, mas toda a comunidade escolar, desde o cantineiro até o porteiro", afirma.

Pesquisa, formação e produção de material

O trabalho será executado ao longo de 12 meses em 96 escolas da rede estadual de ensino, na zona norte da cidade de São Paulo. O presidente do Grupo Corsa explica que, primeiramente, acontece um trabalho de sensibilização dos diretores e dos coordenadores pedagógicos para que eles conheçam a proposta do projeto. Também será feito um diagnóstico de entrada, por meio de uma pesquisa entre os alunos, para saber como tem sido a discussão sobre diversidade e homofobia nas escolas. O principal produto do projeto será um material didático (livro ou cartilha), que será elaborado simultaneamente com um curso de formação direcionado a cerca de 200 professores. Neste curso, o material será pré-testado para que possa ser multiplicado e utilizado em outras escolas.

Após o fim do projeto, as duas entidades buscarão parcerias com o Ministério da Educação, secretarias de educação e outras entidades para difundir o material. A expectativa é a de que os educadores disponham de recursos didáticos e teóricos para não ficarem omissos diante de cenas explícitas de homofobia e estejam preparados para conversar sobre o assunto.

O Grupo Corsa - que elegeu a área de educação como prioritária no combate ao preconceito contra as pessoas homossexuais - conta com a experiência de um projeto semelhante realizado em escolas municipais, que, por meio de oficinas, levou uma reflexão crítica sobre a sexualidade aos profissionais de educação e ao restante da comunidade escolar. O grupo procura enfatizar a importância do respeito à diferença.

"Não se combate um preconceito sozinho. Agimos contra todas as formas de discriminação, de raça, de gênero etc.", afirma o presidente do grupo. Sylvia Cavasin reforça esse ponto de visa: "Queremos oferecer aos professores condições de lidar com diferentes situações de forma respeitosa, com informações sobre como tolerar e respeitar a diferença, que nada mais é do que respeitar o outro", diz.

Mariana Loiola

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