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Mil e uma formas de captar recursos

Autor original: Maurício Jun Handa

Seção original: Notícias exclusivas para a Rets

"O céu é o limite". Assim Rodrigo Alvarez, captador de recursos do Doutores da Alegria, define as múltiplas formas possíveis de captação de recursos para organizações não governamentais. Para se manterem, essas instituições podem requisitar dinheiro junto a empresas privadas, agências internacionais, órgãos ligados ao governo e pessoas físicas. Também podem vender produtos, organizar palestras e eventos. Além dos Doutores, a Federação de Órgãos para a Assistência Social e Educacional (Fase ), o Greenpeace e os Médicos Sem Fronteiras estão desenvolvendo um bom trabalho de captação de recursos e deram algumas dicas para aqueles que ainda estão buscando um caminho para essa arte.


"Nós trabalhamos com patrocínos de empresas privadas, o que equivale a 85% de nossas verbas, buscamos sócios mantenedores, vendemos produtos, organizamos eventos, damos palestras e temos uma parceria com cartões de crédito. Nesse caso, ao invés de os clientes trocarem por mercadorias os pontos que acumulam com o uso do cartão , eles optam por doações que são feitas pelo banco", diz Rodrigo Álvarez. Entre os eventos organizados pelos Doutores, um deles ganhou um prêmio da Ashoka devido a sua criatividade: "muitas pessoas comem nhoque todo o dia 29 com uma nota embaixo do prato para dar sorte. Pegamos essa idéia e organizamos o 'nhoque da alegria'. Assim, depois da refeição, a nota colocada embaixo do prato é oferecida para doação", conta Rodrigo.


Entre as dicas dos Doutores da Alegria para facilitar a captação estão: fazer uma análise das estratégias que estão dando certo e das que estão dando errado na hora de conseguir as verbas; direcionar esforços para atividades de maior necessidade na organização; não depender de um único patrocinador, pois, se houver uma perda, gera-se uma grande instabilidade; buscar empresas que possivelmente se identifiquem com o trabalho da organização e realizar uma pesquisa para a elaboração da melhor proposta.


Ao contrário dos Doutores da Alegria, o Greenpeace optou por não pedir recursos a empresas privadas. "Nós trabalhamos muito com denúncias. Dessa forma, pensamos que o melhor é sermos independentes para evitar que alguma empresa fale que estamos reclamando de algo por recebermos patrocínio de um concorrente", explica Carla da Nóbrega, captadora de recursos do Greenpeace e vice-presidente da Associação Brasileira de Captadores de Recursos.


Atualmente, o Greenpeace conta com sete mil sócios no Brasil. A idéia é chegar até o final do ano com 10 mil. Segundo ela, é complicado ter um número grande de pequenos doadores, já que é muito difícil captar recursos junto a cada pessoa e administrar cada uma delas. O Greenpeace consegue as contribuições com a ajuda de uma agência especializada em enviar mala-direta, abordando pessoas nas ruas, pela Internet, pela publicação de anúnicos e por um serviço de telemarketing. "É preciso investir em estratégias para se conseguir captar, nem que seja somente em pessoal qualificado nessa área", diz Carla.


Tanto os Doutores da Alegria quanto o Greenpeace costumam a prestar contas das atividades junto aos associados para que estes saibam como o dinheiro está sendo aplicado. A distribuição de revistas, folders e boletins para os sócios é uma forma de mostrar às pessoas o que a organização está desenvolvendo.


Já a Fase consegue seus recursos através de agências internacionais de cooperação e de órgãos ligados ao governo, como a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep). "Nós existimos há 40 anos e temos uma relação antiga com essas agências. Além disso, conta muito a credibilidade da instituição. Um outro fato que facilita nossa captação é agirmos como uma agência nacional, visto que repassamos recursos para projetos como o Afro-Reggae e Setor de Análise e Apoio a Projetos (Saap) para que se estruturem e sejam capazes de conseguir seus próprios financiamentos. Dessa forma, servimos de mediadores entre as demandas brasileiras e a possibilidade externa de cooperação", avalia Luiz Antônio Correia de Carvalho, responsável pela comunicação e captação de recursos da Fase.


De acordo com Dirk Bogaert, coordenador geral dos Médicos Sem Fronteiras, uma ong precisa ter um trabalho sério para convencer os doadores potenciais. "Mas isso não basta: tem que ter uma mensagem clara e relativamente simples, porque freqüentemente temos que convencer o doador em um minuto só, através de uma mensagem simples, às vezes basta uma única frase", diz. Dirk fala ainda que a desconfiança dos doadores desfavorece a captação de recursos . "Em um país onde a cada semana aparece mais escândalos de desvio de verbas, não é fácil convencer as pessoas de que conosco não é assim", conclui.

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